terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O troco

Em algum lugar ela se perdeu, ou me abandonou. Prefiro pensar que se perdeu. Partiu só, deixando-me tão mais só. Maldita esperança. Se não o podia ser, tornou-se de propósito. E além de maldita, era atrevida. Ô bichinha atrevida! Me fez acreditar que era possível.
Que, quando os dias amanheciam belos, terminavam saudosos.
Que a chuvinha lá fora matava a sede da alma.
Que aquele colchão jogado era o canto mais aconchegante do mundo.
Que a pitadinha de tempero dava outro gosto à vida.
Que o café da cafeteira era o melhor estímulo do dia.
Que havia talento por trás da frustração.
Que havia respeito por tanta devoção.
Que o calor daquele corpo era o consolo dos problemas.
Que eu era forte o suficiente para me entregar fácil assim.
Que o amor existia. Que o amor existia.
Agora ela me quer de volta, aquela ordinária. Vem de fininho, com um papinho dos mais furados, tentando pegar de volta o espaço que deixou vazio. Boba ela em pensar que ele estaria ali, do mesmo jeitinho. A mágoa entrou no lugar assim que ela se foi. E se mostrou mais amiga e confidente. Agora, esperancinha, eu te digo umas coisas.
Que, quando os dias amanheciam belos, terminavam tristes.
Que a chuvinha lá fora matava a alma, não a sede.
Que aquele colchão jogado era o canto mais enfermo do mundo.
Que a pitadinha de tempero estragava o gosto da vida.
Que o café da cafeteira era amargo demais.
Que não havia mais talento, apenas frustração.
Que não havia respeito por tanta devoção.
Que o calor daquele corpo era a fonte dos problemas.
Que eu não era forte o suficiente para me entregar fácil assim.
Que o amor não existia. Que o amor nunca existiu.