quarta-feira, 26 de junho de 2013

Hiato



O boato
Confirmado pelo ato
Desmascara o anonimato
Quebra o retrato
Cria um hiato
E abre espaço
De imediato
A um anseio novato
Um tato
Um ato

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Marca




O risco que fere
que rasga a epiderme
e sangra o poro
resseca
seca
e registra o momento
numa linha branca
fina
retilínea
quase paralela
na pele

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Bruma



Neblina na retina
turva a visão
embebeda o dia
e faz do passo
compasso sem harmonia

A via, que não via
me atravessa
enquanto tropeço
no passo
na fala
no verso

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mentol

A alça da caneca fervia mais que seu líquido. Culpa da mão fria que deixou o tato sensível demais. Esticou as mangas da blusa segurando-as com os dedos, improvisando uma luva, e trouxe o café à boca. Pelava. Queimou a língua. Xingou a si mesma, intercalando palavrões e assopros até o café amansar. Bebeu e nem lembrou da dor de minutos atrás. A mão esquentava ao ritmo que a caneca esfriava. Arrastou as mangas desfazendo a luva. Ao fim do café, colocou a caneca na pia. Não escovou os dentes para não enfrentar a água fria da torneira, que gelaria a mão que custou aquecer. Passou um batom vermelho e saiu de casa com uma bala de menta na boca. Caminhou até o ponto de ônibus. Enquanto esperava, pegou outra bala. Notou estar sendo observada. Notou ele se aproximando. Pediu a ela uma bala. Ele devia ter tomado um café e saído de casa sem escovar os dentes para não enfrentar a água fria da torneira, pensou.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Chão



o pé rachado
que deixa o rastro
por onde passa
que pisa o solo
que sente o chão
sente na sola
no casco
do pé descalço
o caco
e o descaso
dessa terra
de patrão