segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Empate



Nos encontramos todos os dias, no mesmo horário e no mesmo semáforo.
O mesmo horário que nem sempre é o mesmo, mas que sempre coincide tanto nos minutos adiantados quanto nos atrasos. Como sempre, atravessamos a faixa de pedestres lado a lado, separados por pouco mais de um metro entre nós.
Nos olhamos escondidos um do outro e, quando acontece de o fazer ao mesmo tempo, cada um disfarça à sua maneira. Eu finjo olhar além, infinito. Ele finge olhar para todos, sem nada de especial em cada passada de olho.
Nunca trocamos palavras. Mas sabemos que nos vigiamos. E que temos um compromisso.
Instintivamente, nos desafiamos toda manhã. E o semáforo sempre nos recebe em sincronia, no verde.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Onisciência



sentada na prateleira
ela vê
quem entra
quem sai
quem deita
quem deixa
uma peça
de roupa
para trás

do alto
ângulo de deus
olha
a fraqueza
de quem
não tem
como ela
pele fria
de porcelana

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Encontro



o ambiente
absorve a essência
lavanda

o molho cheira
pesto
às vezes,
meio lavanda

a mesa posta
taça cheia
pela metade

o tempo
lento
quase não passa

sorriso se abre
telefone
-
sorriso se fecha

taça cheia
esvazia
enche
esvazia

sorriso de canto
telefone
táxi
noite insone

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Catraca



conta gotas de gente
a cada giro,
um preço
a cada preço,
a soma
um valor
por cabeça
de quem
feito boiada
sobre rodas
tenta se manter
em pé

ausência de valor
não basta
apertados na lata
se esfregam
se abusam
se matam

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Imersão

se distraído
te empurram
do alto

você mergulha
sem jeito
no ar
duro

a gravidade,
um convite susto
te acorda
te faz bater asas
e o mergulho
no vento
é sua nova casa