quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mentol

A alça da caneca fervia mais que seu líquido. Culpa da mão fria que deixou o tato sensível demais. Esticou as mangas da blusa segurando-as com os dedos, improvisando uma luva, e trouxe o café à boca. Pelava. Queimou a língua. Xingou a si mesma, intercalando palavrões e assopros até o café amansar. Bebeu e nem lembrou da dor de minutos atrás. A mão esquentava ao ritmo que a caneca esfriava. Arrastou as mangas desfazendo a luva. Ao fim do café, colocou a caneca na pia. Não escovou os dentes para não enfrentar a água fria da torneira, que gelaria a mão que custou aquecer. Passou um batom vermelho e saiu de casa com uma bala de menta na boca. Caminhou até o ponto de ônibus. Enquanto esperava, pegou outra bala. Notou estar sendo observada. Notou ele se aproximando. Pediu a ela uma bala. Ele devia ter tomado um café e saído de casa sem escovar os dentes para não enfrentar a água fria da torneira, pensou.

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