os pés
secavam
e ressecavam
apoiados na janela
a posição,
aparentemente incômoda,
criava
o desconforto perfeito
para observar
imperfeições
de lá
e de cá
para cada
meia dúzia
de anotações coladas
uma dúzia
de novas coisas
a serem feitas
desfeitas
refeitas
conta
que não fecha
que só abre
ainda mais
o buraco
na parede
feito
clandestinamente
pela mente
dúzias inteiras
de pensamentos volantes
dedos melecados
e lambidos
carimbavam
digitais
onde tocavam
vez ou outra
os limpava
na roupa
guardanapos
de padaria
servem
para escrever
poesia
apetite
por coisas
que não se come
mas que se vive
em dias
e noites
propositalmente
insones
mais alto
que o som
dos motores
que passam
é o som
do verso
que exclamo
mentalmente
ininterruptamente
uma a uma
caíam
e estalavam
no piso frio
uma a uma
gota
gota
gota
formando
a poça
que pisariam
e sairiam
carimbando
as solas
pelo corredor