troco
o dia
pela noite
troco
o sono
pelo verso
troco
o troco
pela bala
barata
que lembra
aquela madrugada
alcoolica
em que
trocamos
beijos
e os passos
sobre
o lençol
ficaram farelos
do nosso biscoito
preferido
aquele
de água e sal
que fizemos juntos
com o que escorreu
dos nossos olhos
em nossa
última fornada
num excesso
de fúria
voaram copos
pratos
cadeiras
e guardanapos
da fúria
à paz
foi só olhar
para os lados:
fazer o que não voa
voar
deve ser coisa
de gente santa
as mãos unidas
juntas ao peito
pediam
por um sinal
qualquer um
som
vento
voz
arrepio
viu uma sombra
pela janela do quarto
o avião que passou
deu seu recado
a batida
é sentida
na testa
vista
no pescoço
reproduzida
no estômago
o coração
deve ser mesmo
um insatisfeito:
não quer saber
de ocupar
apenas o lugar
que lhe pertence