às vezes choro
de propósito
só pra sentir
água e sal
escorrerem
até os lábios
o gosto
me faz lembrar
o amor,
digo,
o mar
nossa última memória
estava emoldurada
e estática
na mesa
de canto
a blusa
de lã
meio velha
que você gostava
foi se prender
bem ali
nesse canto
de mesa
nossa última memória
foi ao chão
agora
não passamos
de cacos
desnavego sozinha
rumo
a qualquer costa
de capitã
nada tenho
estou mais
para vento
anunciando tempestade
sua estadia
em mim
durou
além do previsto
e bagunçou
minha agenda
quem queria
se hospedar
desistiu
agora
faço promoção
do peito vago
vendo os olhos
respiro fundo
e corro
pra longe
corro
por anos
até as pernas
pararem
desvendo os olhos
e vejo
que voltei
ao mesmo lugar
só pode ser
o magnetismo
da terra
tentando
não me deixar
fugir de você