Poesias de Mariana Teixeira
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Preço
pago conta
pago o pato
apago
me apego
desapego
pago o preço
que for
para ser
liberdade
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Destinos
na calçada
que subo
desce a mulher
seu filho
e suas sacolas
de plástico
quanto mais
eu subo
mais
ela desce
nos cruzamos
em algum trecho
dos caminhos
não sei
o dela
ela não sabe
o meu
nos olhos
da mulher
vi
pequenos suicídios
diários
o que será
que ela viu
nos meus
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
Entulho
debaixo
da cama
um entulho
de sonhos
só podem
ter caído
entre sonos
e insônias
só olhei
não tirei
não varri
não mexo
no que
não é meu
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Mapa
se eu
fosse mapa
seria a parte
desbotada
ou borrada
ou mastigada
por traças
seria a parte
que se olha
e não se sabe
se é morro
ou vale
ou mar
ou abismo
se eu
fosse mapa
você estaria
perdido
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
Asas
fico
quando
porque
por quem
quero
estou
sempre pronta
para
partir
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
Chaleira
a chaleira
pegou fogo
liguei o fogão
coloquei água
um punhado de chá
deixei ferver
ferveu demais
a chaleira
pegou fogo
senti o cheiro
de longe
vi fumaça
entrando pela porta
do quarto
a chaleira
pegou fogo
acendi incenso
fechei os olhos
segui deitada
e fui encontrar
Manoeis
a chaleira
pegou fogo
peguei fogo
e virei manchete
no jornal do bairro
ninguém falou
da chaleira
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Sopro
quando acordar
na manhã seguinte
sozinho
e procurar
por algo meu
esquecido
no banheiro
caído
atrás da porta
e nada
encontrar
lembre-se
de mim
como um sopro
não sei fazer
caminhos de volta
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Prazer
procuro
entre textos antigos
e rascunhos velhos
algo
que me represente
vasculho tudo
leio até
de trás pra frente
nada mais
faz sentido
sou mutante
você precisa
me conhecer
de novo
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Divergência
Aí você chega falando de amor.
Aí eu chego falando de amor.
Aí eu pulo sua vez e me entrego.
Aí você é todo medo.
Aí eu sou toda entrega.
Aí você é todo desculpas.
Aí eu sou toda entrega.
Aí somos só sexo.
Quando poderíamos ser só amor.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Tentativa
finco os pés
no canto
mais plano
e estável
do chão
estremeço
e desequilibro
e entorpeço
mesmo assim
instabilidade
mora dentro
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Clima
a temperatura
cai de novo
e reclamo
de boba
altos e baixos
de clima
são sátira leve
dos picos
e abismos
da vida
terça-feira, 26 de julho de 2016
Viagem
minha ausência
não se nota
de corpo
presente
por isso
vago
em pensamento estou
em todos os lugares
que não posso estar
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Tremor
terremotos internos
em intervalos curtos
abalaram estruturas
que antes
se pensava
inabaláveis
tremeu
tudo
trincou
boa parte
a parte
do peito
caiu
aos
pe
da
ços
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Poemas segredos
poemas segredos
escrevo
com caneta
sem tinta
para ler
tem que ver
além do branco
e das linhas
a verdadeira poesia
reside
no invisível
quinta-feira, 7 de julho de 2016
Inveja
invejo
os bichos pequenos
os menores
os feios
os que se arrastam
e somem
nos vãos
invejo
essa habilidade
de desexistir
para os outros
somem
quando querem
os bichos pequenos
eles
se bastam
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Falha
um discurso
falho
falo
falho
tentando
falar bonito
com contexto
com texto
com começo
meio e fim
falha minha
insistir
em reproduzir
o jeito certo
das coisas
quando eu mesma
sou toda falha
até na fala
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Amargo
bate
um gosto amargo
embrulha o estômago
esse amargo
domina a boca
amarra a garganta
espanca a alma
esse amargo
me rendo
ao amargo
e penso:
esquecemos
de adoçar
a vida
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Rastro
um rastro ficou
por onde
passei
um rastro ficou
vazou
um tanto assim
de mim
lavaram
com a mangueira
escorri
com a sujeira
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Casulo
corpo imóvel
mente inquieta
refugio-me
no silêncio
faço nele
um casulo
hiberno
em meu inferno
e meu calor
interno
terça-feira, 7 de junho de 2016
Arremate
costuram
as minhas
imperfeições
todas elas
costuram por cima
por baixo
pelos lados
alguns pontos
ficam abertos
e por eles
vazo
meu espelho reflete
uma colcha
de retalhos
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Origem
a primeira roupa
que pego
visto
penteio o cabelo
com os dedos
tomo um chá
mal coado
e saio
mastigando
o resto do mato
rotinas plásticas
pedem um pouco
de naturalidade
segunda-feira, 23 de maio de 2016
Hematoma
trago
um hematoma
no joelho
não caí
não trombei
não fiquei
de joelhos
nem rezando
nem fazendo amor
trago
um hematoma
no joelho
e não sei
como surgiu
acho
que caí
em mim
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Exemplar
um livro está pronto
dentro de mim
mas inapto
para leitura
meu sangue
secou
e colou
as páginas
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Anúncios
anúncios
de carros
aptos 2 quartos
estofados
almoços à la carte
chegam
o tempo todo
anúncios
que me interessam
não chegam
seu anúncio
de que vem
não vem
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Camadas
despi você
tirei
camadas
e camadas
do você
que você
achava ser
me despi
tirei
camadas
e camadas
do eu
que eu
achava ser
despi você
me despi
não nos reconhecemos mais
recolhemos
nossas camadas
e seguimos
caminhos opostos
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Regulamento
li
o regulamento todo
item por item
gravei as normas
decorei as regras
pra que não
houvesse erro
na hora
de fazer
tudo
ao contrário
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Simpatia
acendi vela
incenso
alinhei pedras
combinei cores
coloquei letra
não lembro se antes
ou depois
do número de casa
excedi
na simpatia
excederam
vácuos
antipáticos
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Disfarce
por trás
do bom humor
há sempre
uma dor
se esforçando
pra não chorar
dor atriz
em começo
de carreira
chora escondido
depois ri
mas esquece
que a maquiagem
já ficou borrad
a
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Resiliência
lâmpada queimada
troco por outra
econômica
ela queima
troco por outra
mais forte
ela queima
troco por outra
mais fraca
ela queima
desisto da luz
me adapto ao breu
e no escuro
vejo
o que a claridade
não permite
segunda-feira, 28 de março de 2016
Fardo
braços e mãos
ocupados
duas bolsas em cada ombro
empurro o portão
com o pé
ele fecha batendo
e anuncia
minha chegada
chego
desocupo braços e mãos
e mesmo sem nada
os ombros permanecem
pesados
terça-feira, 15 de março de 2016
Associações
não sei
que tipo de ligações
acontecem
dentro de cérebros
que associam
coisas que não
se associam
vejo lua em pedra
folha em mesa
ar em chão
eu em você
quarta-feira, 9 de março de 2016
Shoyu
resto de shoyu
no prato
com uma ponta
do garfo
tenta um desenho
arrasta um fio preto
pra um lado
outro fio preto
pro outro
e antes
de terminar
o desenho
descobre
que o líquido preto
em forma de fio
é marrom
quarta-feira, 2 de março de 2016
A gente
não combinamos
quase nada
e por isso combinamos
em quase tudo
o que nos prende
é a liberdade
que não abrimos mão
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Possibilidades
das mil possibilidades
que trombei
olhei uma a uma
de perto
umas gostei
outras descartei
meia dúzia
cogitei ter
pra mim
mas eu
sou eu
e escolhi
entre mil
o impossível
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
Declamação
eu declamava
você dizia
que eu reclamava
mas eu declamava
declamava a mágoa
declamava a raiva
o atraso
a resposta atravessada
declamava seu não
e seu não de novo
declamava quando você
nem me olhava
você dizia
que eu reclamava
mas eu declamava
e te amava
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Adeus
todas as razões
pra ficar
e você foi
pegou suas coisas
e do jeito que virou
a chave na porta
nunca mais desvirou
todas as razões
pra ficar
e você foi
como eu sempre soube
que um dia faria
.
.
.
previsível como é
aposto que foi isso
que você escreveu
sobre mim
entre latas
lágrimas
e baseados
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Precaução
das fotos
que te dei
guarde uma
pra rasgar
mais tarde
o amor
às vezes joga
bumerangue
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Trauma
troncos e galhos
cobertos por musgo
a árvore
do fim da rua
ficou até bonita
toda de verde
mas desconfio
que ela se cobriu toda
por vergonha
de sua perna
e seus braços
bicha boba
mal sabe
que era ainda mais bonita
quando mostrava suas estrias
e ranhuras
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
Sujeira
estampam
panos de chão
xadrez
flor
bola
risco
coração
nem a sujeira
tem o direito
de ser ela mesma:
apenas grudar
e encardir o pano
metem-lhe
uma estampa
na cara
nunca vi
sujeira precisar
de maquiagem
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