bate
um gosto amargo
embrulha o estômago
esse amargo
domina a boca
amarra a garganta
espanca a alma
esse amargo
me rendo
ao amargo
e penso:
esquecemos
de adoçar
a vida
um rastro ficou
por onde
passei
um rastro ficou
vazou
um tanto assim
de mim
lavaram
com a mangueira
escorri
com a sujeira
corpo imóvel
mente inquieta
refugio-me
no silêncio
faço nele
um casulo
hiberno
em meu inferno
e meu calor
interno
costuram
as minhas
imperfeições
todas elas
costuram por cima
por baixo
pelos lados
alguns pontos
ficam abertos
e por eles
vazo
meu espelho reflete
uma colcha
de retalhos