passei as mãos pelos
cabelos com a desculpa de arrumá-los.
fiz dos dedos dentes
de pente.
passei uma, duas, três
vezes
alisando os fios com
aparente carinho,
como um gato que se
põe de barriga pra cima, num certo charme,
antes de se firmar no
chão e atacar o passarinho.
eu, passando as mãos
pelos cabelos, era o gato.
os dedos, feitos
dentes de pente, logo virariam pinça
e arrancariam qualquer
fio que julgasse fora do padrão.
puxei um, dois, três.
olhei de perto os fios
arrancados e considerados inaptos
para permanecer nos
cabelos.
procurei defeitos e
inventei desculpas
que justificassem o
assassinato.
tarde demais.
agora trago as mãos
sujas por ter dado fim
a uma parte de mim.
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