terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Metades


A laranja era daquelas cascudas. Cortei uma lasca fina no começo. No fundo, o que se espera de uma laranja é que ela tenha pouca casca e muita fruta. Mas essa era daquelas cascudas. Cortei mais fundo até chegar no limite do bagaço. Bem no limite. Segurei a faca cega com firmeza e tratei de descascar o resto. Os movimentos da mão com a faca eram pura maestria, um domínio quase perfeito. Ouvi meu nome. Olhei para o lado. A faca cega me cortou. Eu sangrei. A laranja soltou seu sumo como um veneno.

Um pouco na laranja estava em mim. E um pouco de mim, na laranja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário