A laranja era daquelas cascudas. Cortei uma
lasca fina no começo. No fundo, o que se espera de uma laranja é que ela tenha pouca
casca e muita fruta. Mas essa era daquelas cascudas. Cortei mais fundo até
chegar no limite do bagaço. Bem no limite. Segurei a faca cega com firmeza e tratei
de descascar o resto. Os movimentos da mão com a faca eram pura maestria, um
domínio quase perfeito. Ouvi meu nome. Olhei para o lado. A faca cega me
cortou. Eu sangrei. A laranja soltou seu sumo como um veneno.
Um pouco na laranja estava em mim. E um pouco
de mim, na laranja.
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