O boato
Confirmado pelo ato
Desmascara o anonimato
Quebra o retrato
Cria um hiato
E abre espaço
De imediato
A um anseio novato
Um tato
Um ato
O risco que fere
que rasga a epiderme
e sangra o poro
resseca
seca
e registra o momento
numa linha branca
fina
retilínea
quase paralela
na pele
Neblina na retina
turva a visão
embebeda o dia
e faz do passo
compasso sem harmonia
A via, que não via
me atravessa
enquanto tropeço
no passo
na fala
no verso
A alça da caneca fervia mais que seu líquido. Culpa da mão fria que
deixou o tato sensível demais. Esticou as mangas da blusa segurando-as com os
dedos, improvisando uma luva, e trouxe o café à boca. Pelava. Queimou a língua.
Xingou a si mesma, intercalando palavrões e assopros até o café amansar. Bebeu e
nem lembrou da dor de minutos atrás. A mão esquentava ao ritmo que a caneca
esfriava. Arrastou as mangas desfazendo a luva. Ao fim do café, colocou a
caneca na pia. Não escovou os dentes para não enfrentar a água fria da torneira,
que gelaria a mão que custou aquecer. Passou um batom vermelho e saiu de casa
com uma bala de menta na boca. Caminhou até o ponto de ônibus. Enquanto
esperava, pegou outra bala. Notou estar sendo observada. Notou ele se aproximando.
Pediu a ela uma bala. Ele devia ter tomado um café e saído de casa sem escovar os
dentes para não enfrentar a água fria da torneira, pensou.
o pé rachado
que deixa o rastro
por onde passa
que pisa o solo
que sente o chão
sente na sola
no casco
do pé descalço
o caco
e o descaso
dessa terra
de patrão