Parecia a mesma música que ouvia quando pequena na casa dos avós, naqueles
almoços de domingo que corriam por toda tarde. Não sabia quem cantava, se
quando tocava era no rádio ou no vinil. Apenas sabia que era parecida, se não
era a própria, melodia da sua infância.
Olhou para a mulher sentada no banco à sua frente na intenção de descobrir,
em um movimento, um balançar de pés ou batuque de dedos, se a música também trazia
alguma lembrança para ela. Imaginou que ela teria uma idade próxima a sua.
Teriam sido crianças na mesma época. Teriam brincado das mesmas coisas. Teriam
ouvido as mesmas canções.
Cogitou perguntar à mulher se ela conhecia aquele refrão, mas não deu
tempo. O painel de senha apitou e a
mulher se levantou. Caminhou rumo ao consultório e, quando de lá saísse, a canção
já teria terminado e uma outra música já teria ativado uma outra
lembrança.