quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O rio

Lá de cima a gente via o rio salgado que passava. Diziam que não podia chegar muito perto, muito menos tocar naquelas águas. Diziam que quem ia até lá não voltava mais. Acho que ninguém sabia ao certo o motivo.
Por que alguém haveria de infringir? Por que esse alguém seria eu? Seria eu. E um dia, fui.

De madrugada, quando a lua colocava-se a iluminar a copa das casas, saí cidade afora. Lembrava-me das histórias que meu avó contava sobre o rio. Em uma delas, ele descrevia um atalho por entre os morros. Não havia placas, nem guardas. Na ausência de caminhos, segui o que me mandava as lembranças.

A cada flash da memória, um passo na direção certa e um aperto no peito. Havia encontrado a trilha proibida. E, em seu fim, encontraria a verdade.

O êxtase de chegar era maior que o bom senso; a curiosidade, maior que a disciplina. Aproximei os pés da margem e, num instinto, mergulhei as mãos nas águas e trouxe até os lábios. Conhecia aquele gosto. Era de lágrimas.

E agora, eu era a nascente.

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